Porque dou eu guarida no meu espírito a tanto lixo e disparate? Estarei na esperança de que, se o que sinto se disfarçar de pensamento, sentirei menos? Não serão todas estas notas as contorções sem sentido de um homem que não quer aceitar o fato de que nada há a fazer quanto ao sofrimento, a não ser sofrê-lo? Na realidade, pouco importa que nos agarremos aos braços da cadeira do dentista ou que mantenhamos as mãos quietas no colo. A broca continua a brocar. E a dor continua a assemelhar-se ao medo.
Talvez, mais precisamente, à ansiedade. Ou à expectativa. Estar simplesmente na expectativa de que alguma coisa aconteça. E isso dá à vida um sentido permanentemente provisório. Não parece que valha a pena começar a fazer seja o que for. Não consigo sossegar. Bocejo, agito-me, fumo demais. Até isto acontecer, tinha sempre demasiado pouco tempo. Agora não há mais nada senão tempo. Tempo quase puro, um vazio consecutivo.
C. S. Lewis.