sexta-feira, 28 de agosto de 2009
poesia próxima
Passa paisagem, trem
Alguém
Florestas, e alguma coisa urbana
Passam carros, ruídos, som
Construções e desconstruções
Materiais e imateriais
Passam cores, amores
Cores vivas ou incolores
Nos olhos, no vento
Em um sorriso desbotado
Passam saberes
sólidos, incostantes
Feitos de tempo
Passa a saudade,
a dor, o orgasmo
Passa a vontade do café
e do cigarro
Passa então, desapercebida
Breve como uma poesia
Passa a vida.
- Felipe
[ fragmento de um amigo poeta ]
domingo, 23 de agosto de 2009
vagabundos iluminados
- kerouac
ouro de tolo
Eu devia estar contente porque eu tenho um emprego, sou um dito cidadão respeitável e ganho quatro mil cruzeiros por mês. Eu devia agradecer ao Senhor por ter tido sucesso na vida como artista, eu devia estar feliz porque consegui comprar um Corcel 73. Eu devia estar alegre e satisfeito por morar em Ipanema depois de ter passado fome por dois anos aqui na Cidade Maravilhosa. Ah! Eu devia estar sorrindo e orgulhoso por ter finalmente vencido na vida mas eu acho isso uma grande piada e um tanto quanto perigosa. Eu devia estar contente por ter conseguido tudo o que eu quis mas confesso abestalhado que eu estou decepcionado...
Porque foi tão fácil conseguir e agora eu me pergunto "e daí?" Eu tenho uma porção de coisas grandes prá conquistar e eu não posso ficar aí parado... Eu devia estar feliz pelo Senhor ter me concedido o domingo prá ir com a família no Jardim Zoológico dar pipoca aos macacos... Ah! Mas que sujeito chato sou eu que não acha nada engraçado: Macaco, praia, carro, jornal, tobogã... Eu acho tudo isso um saco...
É você olhar no espelho, se sentir um grandessíssimo idiota saber que é humano, ridículo, limitado, que só usa dez por cento de sua cabeça animal... E você ainda acredita que é um doutor padre ou policial que está contribuindo com sua parte para o nosso belo quadro social. Eu que não me sento no trono de um apartamento com a boca escancarada cheia de dentes esperando a morte chegar. Porque longe das cercas embandeiradas que separam quintais no cume calmo do meu olho que vê assenta a sombra sonora de um disco voador...
[21/08/09; vinte anos na ausência de tamanho gênio...]
o acrobata pede desculpas e cai
"Você deu sorte, meu chapa. O filho do senador telefonou e pediu que o delegado te soltasse. Não fosse isso, você ia levar uma coça.
Olho para os meus semelhantes e lhes digo:
- Muito Obrigado.
Começo a andar mais uma vez por esta cela bem mais espaçosa que um humorista qualquer achou por bem chamar de liberdade."
"Desço as escadas do templo pensando nas desvantagens que me tem trazido esta louca coerência de uma vida que ninguém vive. Mas ela está dentro de mim, apesar das condições. Está lá no centro nervoso do desespero: é a alma da minha calma feita de nervos. Não há como arrancá-la e renascer igual. Eu quero acreditar nesta vida-não-vida... Quero acreditar nas coisas ditas e proclamadas pela maioria. Quero torcer no futebol; pertencer a um partido; acreditar no anúncio que vejo na televisão e emocionar-me com o problema da mãe solteira. É preciso amordaçar este estúpido espírito crítico sempre que eu ouvir a voz da maioria."
- wolff